sexta-feira, 23 de abril de 2010

insípido

Há três coisas que as pessoas inevitavelmente dizem quando encontram uma pessoa que tem uma doença ou perdeu alguém da familia. Três coisas que você daria tudo para que não dissessem, chavôes vazios fadados a revirar suas entranhas e fazer o sangue lhe subir à cabeça. E, apesar de já estar preparado para isso, quando ouve uma dessas frases, você se pega lutando para acalmar o impulso incontrolável de rosnar palavrões e atirar objetos pesados e quebráveis, esganar e socar os bem-intencionados com aquela típica expressão de preocupação e solidariedade, sentir os ossos deles se partirem sob os seus punhos, ver o sangue rubro e quente esguichar como um gêiser de suas narinas.

'Sinto muito.' Essa é uma frase universal mas o problema é que o primeiro reflexo que temos quando ouvimos alguém a dizer é responder 'tudo bem'. Somos programados com isso desde nossa primeira série, desde a primeira vez que alguém derruba os nossos blocos de montar. Então, você se vê obrigado, impelido por um vício sociolinguístico a afirmar que tudo está bem. E não é só isso, pois agora os papéis foram invertidos e você passa a consolar em vez de ser consolado, o que é bom, pois você já está cansado de pessoas que tentam inultimente consolá-lo.

'Como vai indo?' Mais uma vez o impulso é traiçoeiro. Porque sua boca quer dizer 'bem', e a pessoa espera que você diga 'bem', reza para que você diga 'bem', talvez com uma expressão tristonha, cansada, mas, apesar dos pesares, 'bem'. A pessoa expressou sua preocupação de praxe, e 'bem' é o recibo que ela espera obter para incluir na declaração de renda. Mas você não está bem, está uma merda, frequentemente se embebedando de pensamentos tristes.

'Será que posso ajudar?' Já que perguntou, pode, sim. Você pode voltar no tempo e impedir essas coisas ruins que me aconteceram. Isso seria a maior ajuda. Fora isso, o que será que você imaginou ser capaz de me oferecer que possa resolver meu problema?

Sei que a intenção das pessoas é boa, mas isso não facilita em nada a tarefa de ouvi-la. Se quer demonstrar sua amizade e apoio, faça o seguinte: não fale desse assunto. Não estou afim de ouvir a história do acidente do carro do seu pai, do infarto da sua mãe, da morte lenta por leucemia da sua irmã. Minha dor super todas as outras (porque é minha e eu não sofri as outras), e não quero me revolver na lama do seu sofrimento, assim como não quero que você se revolva na lama do meu.

O que quero dizer com isso é que, porra, é minha doença, é minha dor, é minha essa situação. Não venha tentando falar comigo pensando que uma conversa vai resolver tudo, ou tentar me deixar com raiva que vai resolver. Não adianta. Minha mente sabe o que quer e no meu caso, se quer ajudar, se auto-convide para vir me ver, assim poderemos até passear e conversar sobre outras coisas.

Me deixa puto as pessoas se intrometerem e falarem asneiras, desde esses chavões a até te xingar. Mas que porra não? Estou falando isso para as pessoas que lêem meu blog e tentam me consolar ou tentam me xingar. Porra. Vocês não conseguem me afetar em nada. Só que cansa e estressa. Se eu tenho um blog é justamente para eu me expressar e não vocês, é meu espaço e é minha essa porra. E, quando eu digo, porra, significa qualquer palavrão.

Então, desabafo não? muito bom!

um saaaaaaaaalve, agradeço pelo TEMPO PERDIDO... =)

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